Há alunos que passam despercebidos mas escrevem textos que merecem ser lidos.
Esta aluna merece, de facto, ser reconhecida pelo empenho e participação em diversas atividades.
Fazemos um convite à leitura esperando que se deliciem com este texto magnifico da Beatriz Fialho, n.º 5 do 9.º 4.ª.
Viajar pode ser uma maneira de
aprender
Sempre
que nos falam de Nova Iorque, Rio de Janeiro, Londres ou qualquer outro ponto
turístico, vêm-nos à cabeça palavras como férias, praias, sol, centros
comerciais e alto consumo. E, claro, se ganhássemos qualquer uma destas
viagens, nem pensaríamos duas vezes. Mas se em vez de uma praia paradisíaca,
fôssemos de comboio até à aldeia dos nossos avós? É o que costumo fazer todas
as férias e não é nada aborrecido. A aldeia fica talvez num sítio que nem
sequer vem no mapa. Sim, longe do mundo real e verídico. A população é quase
mínima e é com sorte que encontramos alguma criança a brincar na rua. É assim
no Alentejo. Nos montes verdes e secos, há uma paz tranquila que, às vezes, não
parece real. O silêncio. Os pássaros. As árvores. A Natureza. A solidão.
Como
qualquer um pode imaginar, numa aldeia pequena qualquer novidade dá origem a
cochichos e sussurros entre as vizinhas: a vida alheia não nos diz respeito.
Mas de que vale dizer isso? Elas continuarão a fazer o mesmo, como uma rotina
diária. O que mais gosto, quando lá estou, é de ficar a ver a paisagem com a
minha avó. Os seus olhos vazios e sábios, profundos de uma cor cinzenta, a
solidão. Quando a minha avó liga o rádio todos se calam, e fico a olhar para
ela, debruçada sobre a mesa e a ouvir com atenção as palavras do locutor, que
fala todos os dias com a mesma voz reconhecível e monótona.
A
minha avó ensina-me muitas coisas. A sua idade revela a sua experiência de
vida. Ensinamos tudo o que sabemos uma à outra e não só eu posso aprender como
também a minha avó. Acho que o mundo é mesmo assim. Quando chega a hora de
partir, sinto um aperto no coração, e há sempre uma lágrima que alguém não
consegue conter. Mas a minha avó não chora. Quando eu saio, talvez, mas não à
minha frente. Se lhe peço para viajar a qualquer um dos destinos turísticos, a
avó ri-se. Aquele é o seu lugar, a aldeia, a sua cultura, a sabedoria que eu
aprendo sempre que a visito.
Beatriz Fialho, nº5,9º4