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No último artigo publicado pela RBE sobre avaliação - A avaliação formativa ao serviço das aprendizagens: o contributo da biblioteca escolar - foram apresentados os fundamentos que sustentam a centralidade da avaliação formativa para o sucesso da aprendizagem e realçada a necessidade de integrar a avaliação em todas as interações da sala de aula, de forma a regular as aprendizagens dos alunos e as práticaspedagógicas.
Para implementar uma sólida cultura de avaliação para as aprendizagens, que adequa as estratégias e tarefas a cada aluno e fomenta a sua autorregulação (Perrenoud, 1998), com o objetivo último de melhorar a aprendizagem, é necessário garantir “a promoção e o recurso, de forma integrada, a um ensino centrado no aluno, mas alinhado com o currículo e com práticas de avaliação” (OCDE, 2013, p. 110).
As rubricas - conjunto coerente de critérios para o trabalho dos alunos que inclui descrições dos níveis de qualidade de desempenho (Brookhart, 2012) - podem contribuir para a transparência da avaliação, pois estabelecem metas de aprendizagem, sendo os critérios explícitos, quer para os professores quer para alunos. De facto, como nos diz Domingos Fernandes, “o foco tem de ser mais no que os alunos têm de aprender e saber fazer e menos no que estamos a pensar ensinar” (Fernandes, 2020, p.5).
Nesse sentido, as rubricas têm a vantagem de permitir ao:
- aluno – conhecer o que se espera dele, em cada tarefa ou atividade, e guiá-lo durante a sua aprendizagem, permitindo-lhe situar-se num determinado nível de desempenho;
- professor – oferecer uma descrição detalhada das aprendizagens dos seus alunos, permitindo-lhe situá-los num determinado nível de desempenho; atuar de forma eficaz e atempada, isto é orientar a sua ação pedagógica, respondendo a necessidades específicas devidamente identificadas e respeitando ritmos e tempos de aprendizagem dos alunos.
As rubricas são especialmente adequadas a tarefas com algum grau de complexidade e quando os resultados de aprendizagem pretendidos são desempenhos. Nesse sentido, uma descrição clara do desempenho esperado é fundamental, assim como a adequação dos critérios escolhidos (Allen & Tanner, 2006).
As tarefas devem ser relevantes e desafiarem os alunos, mas estarem alinhadas com o currículo, para promoverem aprendizagens efetivas, mobilizando conhecimentos e competências de forma contextualizada (debates, projetos, tarefas de investigação, exposições orais, resolução de problemas, ...).
A escolha da tarefa deve ter em conta os objetivos de aprendizagem, isto é as aprendizagens que se espera que os alunos façam. Posteriormente, define-se a respetiva rubrica de avaliação que integra:
- os indicadores de desempenho, isto é os comportamentos observáveis;
- os critérios de desempenho, isto é os níveis de qualidade de cada desempenho.
Estes critérios de desempenho, ou níveis, devem ser claros para que se possa refletir sobre o progresso obtido, tendo em conta os objetivos de aprendizagem.
Tal como nos diz Brookhart (2012), as rubricas podem ser analíticas - descrevem o trabalho em cada critério separadamente – ou holísticas - descrevem o trabalho aplicando todos os critérios ao mesmo tempo e permitindo um juízo geral sobre a qualidade do trabalho. De realçar que as rubricas analíticas permitem dar feedback de qualidade aos alunos e dão mais informações ao professor para adequar a sua prática pedagógica.
A biblioteca escolar é um aliado importante neste processo, quer de trabalho colaborativo para o desenvolvimento de tarefas multidisciplinares, quer de apoio ao trabalho a realizar com os alunos. As práticas de coensino[1] e coavaliação em articulação com o professor bibliotecário têm vindo a tornar-se cada vez mais usuais em Portugal, sobretudo em projetos em torno do desenvolvimento da literacia da leitura, da informação e dos media[2], com um impacto muito positivo no trabalho colaborativo e na qualidade dos processos de ensino e de aprendizagem.
A título de exemplo, e tendo em conta o Referencial Aprender com a Biblioteca Escolar, apresentamos um exemplo de rubrica, para o ensino secundário, na área da literacia da informação.
Segue-se um exemplo criado pela professora bibliotecária do Agrupamento de Escolas de Marvão, Carla Cordeiro, em articulação com os docentes do 1º ciclo, no âmbito da literacia da leitura.
De realçar que o trabalho articulado entre os docentes das várias áreas curriculares e a biblioteca escolar permite inovar práticas, quer ao nível do ensino, quer da própria avaliação, promovendo situações de cooperação efetiva, com ganhos claros para as experiências de aprendizagem que se proporcionam aos alunos.
Desta forma, num trabalho articulado, promovem-se situações de aprendizagem diversificadas e mobilizadoras de múltiplas literacias, consentâneas com as definidas no Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória e promovem-se práticas de avaliação formativa sistemáticas e contínuas, tal como preconizado no DL 55/2018, isto é enquanto “parte integrante do ensino e da aprendizagem, tendo por objetivo central a sua melhoria baseada num processo contínuo de intervenção pedagógica, em que se explicitam, enquanto referenciais, as aprendizagens, os desempenhos esperados e os procedimentos de avaliação” (DL 55/2018, Artigo 22.º).
[1] Coensino – dois ou mais professores ensinam o mesmo grupo de alunos.
[2] Para além dos projetos nacionais da RBE, as bibliotecas escolares têm um referencial para o desenvolvimento destas literacias em contexto educativo – o Referencial Aprender com a Biblioteca Escolar.
Referências
Allen, D. & Tanner K. (2006). Rubrics: Tools for making learning goals and evaluation criteria explicit for both teachers and learners. CBE Life Sciences Education, 5(3), 197-203.
Brookhart, S. (2012). How to create and use rubrics for formative assessment and grading. Alexandria, VA: ASCD.
Fernandes, D. (2020). Rubricas de Avaliação. Folha de apoio à formação - Projeto MAIA. Lisboa: Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e Direção Geral de Educação do Ministério da Educação.
OCDE (2013). Education Today - The OCDE Perspective. Paris: OCDE Publishing.
Perrenoud, P. (1998). Avaliação: da excelência à regularização das aprendizagens: entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed.
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